28 dezembro, 2011

Desenterrando...


Começou a escavação de restos arqueológicos académicos válidos para testemunho de um percurso faupino em portfólio. Este artefacto julga-se pertencer ao 2º ano e a autoria das pessoas retratadas atribui-se a Sir Charles.

20 dezembro, 2011

Pepparkakor & Älgkorv. God Jul!


Pois é, chegou o natal e este Prato do Dia vai temporariamente passar cardápio para a gastronomia lusa.
Na mala, salsichas de rena e de alce a perfumarem a minha roupa (!) e, claro está, as famosas bolachas de gengibre. A bagagem não se limita, no entanto, a estas delikatesser. Entre as prendas há histórias, experiências, projectos, música, corais do Mar Vermelho, rochas da Jordânia, meias de lã, negativos por revelar e algum conhecimento rudimentar do sueco. Ultrapassada a etapa inicial que começou dia 1 de Agosto, segue agora a primeira fornada daquilo que se andou a marinar na Suécia.
Para Janeiro promete-se já uma visita às luzes do norte com huskies, trenós, frio e muita neve...! tudo incluído!
Por agora, vou tratar de saciar o meu apetite voraz pelos pratos da mamã.
NHAM.

09 dezembro, 2011

Mudança de registo.



Acordei e fiquei na cama. Devo ter dormido mal esta noite. Lembro-me de acordar às quatro da manhã e de ir à janela que estalava com o mau tempo lá fora. Mas não, nem traços daquela penugem branca. Quando me levantei voltei à janela. A fina camada de neve envergonhada que fora capaz de se juntar no chão encheu-me os olhos. Até parece que nunca viste neve, Teresa....

30 novembro, 2011

Detesto dobrar roupa interior. A sério, não gosto.
As meias são terríveis.

Hoje sobraram 3 meias sem par à vista.

27 novembro, 2011

Petra, na Jordânia.




Para quem não sabe, é esta a cidade desaparecida do Indiana Jones! Por isso não é de admirar que se ouvisse constantemente alguém nas nossas costas a assobiar a música do filme... tu-tutu-tuuuu-tu-tutuuuu! Fizemos uma breve incursão no reino árabe da Jordânia para visitar esta pequena grande pérola escavada na rocha. Dizem que os grandes canyons pelos quais se faz o ingresso na cidade foram talhados pelas correntes fortes de águas antigas e que as paredes seriam todas esculpidas por homens dos vários Impérios que por estas terras passaram. A subida estafante até ao último templo valeu bem pela conquista da paisagem...

26 novembro, 2011

Sabbath Shalom!


Logo agora que me estava a habituar a ter o fim de semana à 6a feira e ao sábado e a começar o domingo como se fosse uma 2ª feira...

O primeiro domingo que passámos em Tel Aviv – depois de duas semanas a percorrer o país – foi dia de trabalho. Apresentámo-nos na Universidade para uma aula sobre o nosso terreno dada por um professor local e conhecemos a turma dele. Felizmente a noite de sábado não tinha sido tão agressiva como outras tantas... Penso que todos nós nos esquecemos momentaneamente de que era domingo, pois o frenesim era digno de uma 2ª feira. Sobretudo depois de um dia tão morto como o sábado, onde não se passa rigorosamente nada pela cidade fora (pelo menos durante o dia, pois Tel Aviv é uma cidade bem viva pela noite dentro).

“Sabbath shalom” é o cumprimento judaico que se dá para se desejar um feliz fim de semana que é normalmente festejado com uma grande jantar à 6ª feira onde se reúnem amigos e familiares. Em Haifa, durante o meu primeiro Sabbath, ia pela galeria exterior do hostel onde nos hospedámos, a caminho do meu quarto, quando me tive de desviar de um grande grupo animado que se tinha abancado, cortando a passagem. Provavelmente já teriam bebido uma quantidade razoável ou, então, eram simplesmente pessoas muito simpáticas e hospitaleiras. Através de gestos e palavras em inglês rudimentar, fizeram questão em me oferecer um (grande) shot de vodka judeu (segundo percebi). Quando me engasguei, entre muitos risos dos meus anfitriões, várias mãos estenderam-me tâmaras doces para me aliviar.

Porque hoje é Sabbath, vou passear.

24 novembro, 2011

oops...

Enganei-me! Escrevi e reescrevi Líbia em vez de Líbano (Lebanon)! Mil desculpas, obrigada Diogo pelo reparo...

Ruína sobre ruína.


Em Israel não há bombas a rebentar em todos os cantos. Quem assim o julga é influenciado pela  imprensa internacional onde apenas são documentados os conflitos na faixa de Gaza, as ameaças palestinianas e as tensões resultantes do programa nuclear iraniano. Contudo, a nossa viagem desenrolou-se sem problemas nenhuns (com certeza devido ao esforço enorme do nosso professor e dos seus amigos israelitas). No aeroporto (e em outros locais públicos), as medidas de segurança rigorosas e os interrogatórios só evidenciam como Israel sabe proteger-se e sabe estar atenta:
“O seu apelido é de que origem?”
“Almeida? Português.” (não, não é árabe...)
Devo dizer que estas medidas geraram por vezes um conjunto de situações caricatas e que assisti com os meus colegas às perguntas mais surreais...

Falando agora de factos: é verdade que a estrada junto à fronteira com a Líbia, a norte, está minada de ambos os lados, durante vários quilómetros – estavam lá os avisos. Há regiões desertas, a sul, que servem de campos de treino e que são atravessadas por estradas onde se lêem avisos do género: “Atenção, zona de fogo cruzado.” Israel tem uma máquina de guerra pronta para qualquer eventualidade, é assim que ganha o respeito dos seus vizinhos árabes.

Aterrámos em Tel Aviv, mas seguimos de imediato para norte, para o último sítio mais a norte, junto à costa, antes da Líbia: Rosh Hanikra. Estância balnear, mar azul, tempo morno, palmeiras e cactos. Um local tipicamente mediterrânico. A poucos quilómetros, a fronteira. A viagem começa com visitas a locais de interesse natural ou histórico-arquelógico como Banias ou Bar’am, vamos parando para dar palavra ao nosso guia que nos dá explicações exaustivas sobre os sítios, as pessoas e a posição político-territorial de Israel, apontando ocasionalmente algumas curiosidades pelo caminho relacionadas com a história antiga, a recente, a colonização europeia ou religião. Gollan Heights, Galileia, Akko, Cesareia. As cidades ou as ruínas que restam são o testemunho de “layers and layers and layers” de história, conflitos, destruição, domínio e reconstrução. Esta terra foi assolada por todos os períodos da história, todos os impérios, todas as religiões. Filisteus, gregos, romanos, bizantinos, cristãos, cruzados, muçulmanos, otomanos, franceses, britânicos, árabes, judeus.

A segunda parte da viagem começa quando deixamos para trás Amos e Jerusalém, em direcção a sul e ao deserto. A paisagem muda para uma secura extrema, são montanhas atrás de montanhas de pó e rocha, o sol a brilhar sempre. Ao longe, começamos a avistar o azul do Mar Morto. Por esta altura, a nossa carrinha, a das Nações Unidas como foi alcunhada pelos suecos e irlandeses que viajavam noutros dois grupos, estava impregnada de cascas de sementes de girassol, um entretenimento que nos viciou durante todo o caminho. Virámos para Masada, uma montanha com as ruínas do Palácio de Herodes no topo e à entrada baixei o vidro da frente pare responder ao guarda:
“São de onde?”
“Suécia!”
Os meus colegas olharam todos para mim... Uma portuguesa, um irlandês, um italiano, um suíço, dois franceses, uma russa e sim, lá ao fundo, um sueco.

Quiseram subir a montanha a pé. Por alguma razão existia um teleférico, mas o desafio de trepar uns 400 metros de pó e rocha zigzagueantes, ao sol do início da tarde, sem equipamento, nem água, foi mais forte. Claro que quando cheguei lá acima, uns quinze minutos depois da maior parte deles e com a cara vermelha, não queria saber do palácio para nada (mais ruínas) e só pensava que aqueles turistas americanos gordos que tinham vindo de teleférico não mereciam estar ali.

Voltámos aos carros e fomos boiar no Mar Morto.

23 novembro, 2011


Existem fotografias de Israel, sim, mas ainda estou a orientar-me com o scanner...

Voltei agnóstica de Jerusalém.


Entrámos na cidade já era noite. Luzes, carros, motas, pessoas, ruas estreitas e um caos geral e habitual deu-nos as boas vindas. Seguíamos dentro das carrinhas, pés descalços, calções e as toalhas de praia enroladas a um canto salgadas do banho perto de Cesareia. O suíço que ia a conduzir perdeu toda a neutralidade frente à barbaridade do tráfego intenso e, entre apitadelas e asneiras, deu-se o desmembramento da nossa caravana. Algumas infracções depois apostámos em encostar e telefonar aos guias locais para nos virem orientar até ao hostel. Estávamos perto do bairro judeu, construções simples, modernistas, brancas e com jardins. Pelas ruas largas passeavam homens de kippah ou de chapéu preto com abas, barba, fato também ele preto e com o casaco bem comprido. É quase como se fosse um uniforme imposto pela religião, faça chuva, faça sol, o traje acompanha o quotidiano do homem desde a juventude. Novamente em andamento, passámos por paragens de autocarros onde se viam rapazes e raparigas vestidos com a farda militar, cenário que por esta altura já se tornara recorrente para nós e que significa o cumprimento do serviço militar obrigatório israelita. Entrámos na zona árabe da cidade, evidentemente muito mais desorganizada e negligenciada. O lixo dos mercados e bazares acumulava-se nos passeios e as ruas atrofiadas e sinuosas estavam entupidas com o trânsito. As pessoas atravessavam-se indiferentemente pelo meio dos carros e ouvia-se música e vozes que chamavam bem alto.

Do Monte dos Olivais parámos para observar os muros da cidade velha que se erguia em frente, um cemitério muçulmano aos seus pés e algumas cúpulas a pontuar a paisagem nocturna. Só à luz do dia seguinte é que observámos de perto as marcas nos muros deixadas por balas ao longo de décadas de conflito pelo domínio desta cidade. O nosso guia, o Amos, levou-nos a conhecer os telhados de Jerusalém num percurso extenso sobre a muralha velha: ao sol e ao calor, ora sobe dez degraus, ora desce dois, sobe mais uns cinco e torna a descer. O casco antigo da cidade, muito denso, tinha os terraços carregados de antenas, depósitos de água, parabólicas, tijolos, tralha e bandeiras. As construções no interior da muralha são muito disputadas por judeus e muçulmanos que, sempre que conseguem adquirir uma casa, fazem questão em evidenciar quem lá vive, seja colocando uma bandeira israelita, seja construindo uma cúpula encimada por uma lua muçulmana. O perfil da cidade velha é composto por alguns minaretes, torres com sinos, cruzes e estrelas de David. Intramuros, a cidade é organizada em quatro bairros principais: cristão, muçulmano, judeu e arménio. Como não poderia deixar de ser, tantas culturas diferentes a conviver num mesmo espaço geram, por vezes, conflitos (se bem que no caso de Jerusalém, actualmente, o mercado do turismo e da peregrinação acaba por prevalecer e afastar qualquer disputa interna significativa). Apesar de em Israel habitarem maioritariamente judeus e de o estado ter atingido um grau de estabilidade e desenvolvimento sustentável e moderno, este é um problema que se estende ao resto do país, sobretudo devido à presença de algumas comunidades árabes com forte expressão da sua cultura. Israel é neste momento um país caracteristicamente judeu no Médio Oriente e, apesar de os países vizinhos árabes reconhecerem o Estado de Israel (pois Israel é um país com uma história bem antiga), não aceitam a legitimidade judaica sobre esta terra. Jerusalém exprime a concentração e contaminação máxima de religiões e culturas, pessoas e tradições, onde toda a gente tem o mesmo direito sobre a sua fé.

Depois de dar meia volta aos telhados de Jerusalém, foi altura de descer às entranhas da cidade, à gigantesca caverna que serviu de pedreira ao rei Salomão, onde o nosso guia achou por bem dar-nos uma lição de duas horas sobre a Terra Santa, debaixo de terra. Confesso que não ouvi muito... Subindo novamente às alturas, fizemos mais uma pequena maratona pelos muros, até que enfim descemos e entrámos na cidade.

Sigo directa até ao Muro das Lamentações. Foi dos cenários que mais me impressionou. O Santo Sepulcro, que visitámos mais tarde, apenas me enfastiou com o seu turbilhão de turistas, guias, flashes e fotografias, bandeirinhas e bonés coloridos. E lá pelo meio da confusão e do barulho algumas pessoas pseudo-religiosas (porque não acredito que o ambiente fomentasse qualquer sentimento de fé) ajoelhavam-se, beijavam a pedra onde morrera Jesus (?) e acendiam velas para logo depois voltarem à sua excursão e ao seu guia que falava como se estivesse a lidar com o infantário. Bem vindos à Disneyland... Junto ao Muro passava-se o mesmo. Uma família (ocidental), pais e criança, pediram-me para lhes tirar uma fotografia sorridente com o Muro como pano de fundo, os chapéus pretos dos judeus lá ao fundo a rezarem. Transformar a religião em turismo é um mercado rentável.

Junto ao Muro, que afinal não passa mesmo de um muro, homens e mulheres estão separados nas suas orações. Sendo mulher, apenas pude aproximar-me das outras mulheres que rezavam no lado direito. Coladas ao muro, em pé ou de joelhos, o fervor com que rezavam reflectia-se no ritmo do seu baloiçar para trás e para a frente, à medida que murmuravam coisas ininteligíveis com a cara enfiada dentro da bíblia. Algumas estavam verdadeiramente transtornadas, outras pareciam apáticas. Não me demorei, a pequena demonstração foi suficiente para recuar de costas, respeitando as regras e os presentes. Acções extremistas e fanáticas sempre me assustaram, pois evocam a perda de controle, de domínio e de consciência de quem as pratica. Julgo eu.

No dia seguinte, curiosos como somos enquanto estudantes de arquitectura, decidimos enveredar por um bairro especialmente sensível e extremista, sobre o qual o nosso professor nos havia previamente informado. Os judeus ultra ortodoxos vivem em comunidade fora das muralhas da cidade velha, na enorme zona que compõe a nova Jerusalém e que se desenvolveu durante o século XX. No entanto, o grau de conservadorismo em que vivem remonta a uns quantos séculos de atraso. De cabeça tapada (as mulheres), braços e pernas tapadas e em fila indiana, subimos a rua principal do bairro sem parar para olhar. Houvera relatos recentes de uma turista maltratada por estes lados. Nem tirei a máquina fotográfica de dentro da mala, não fosse alguém lembrar-se de ma partir. Grandes cartazes em hebreu e inglês pediam o favor de não usar “inmodest clothing in our neighborhood, such as skirts, short sleeves, tight clothes, ...” Com o calor, apeteceu-me tirar o lenço da cabeça quando reparei em mulheres que também não o usavam. Até que me chamaram a atenção para o facto de essas mulheres estarem a usar perucas, muitas delas rapam o cabelo. Os homens trajam todos da mesma maneira, umas túnicas cinzentas pelo joelho com camisa branca por baixo, uma corda especial à cintura e chapéu de abas. Deixam crescer a barba e as patilhas em rastas ou canudos (duas coisas compridas penduradas de cada lado das orelhas), pois os seus mandamentos não permitem o uso de lâminas de corte na cara, tal como não permitem o consumo de carne de porco, nem a produção de fogo durante o Sabbath, o dia de descanso da comunidade (razão pela qual não se cozinha neste dia, não se pode andar de carro, nem sequer chamar um elevador – há edifícios onde durante o Sabbath existe um elevador a correr para cima e para baixo continuamente de forma a não ser necessário carregar no botão que produz a faísca que desencadeará todo o processo mecânico do elevador). Como diria o nosso guia: “why? Because it says so in the bible!”

A comunidade dos ultra ortodoxos, bem no centro da cidade, vive em segregação face a tudo o resto que a cerca, tem as suas próprias escolas, o seu comércio e a sua economia. Raramente se avistam estas pessoas noutros bairros da cidade e duvido que frequentem supermercados, museus ou faculdades. Não pretendem misturar-se e vivem no seu próprio conceito de sociedade. Lembro-me de pensar, enquanto atravessava as suas ruas, que futuro terão estas pessoas?

Para rematar quero salientar que provei aqui em Jerusalém o melhor húmus de Israel, numa tasca debaixo duma arcada, e que a noite de Sábado é muito divertida e concorrida nos bares da zona perto da Zion Square. Existe também aqui uma faculdade de arquitectura que encontrámos por acaso e que fomos espreitar.

22 novembro, 2011

Digestão.


O período de adaptação começou a partir do momento em que pisei novamente o aeroporto de Arlanda, Estocolmo, há uma semana atrás. Poderia ter sido ao contrário, mas Israel pareceu-me bastante familiar em certos aspectos que relacionei com Portugal. É um país muito mediterrâneo e bastante ocidentalizado, apesar de tudo. O choque deu-se no regresso. Chamemos-lhe quadratura, frieza e compostura sueca. Decorações de Natal, o sol a pôr-se às 3h da tarde e com tantas horas de escuridão, o sono vem mais cedo, claro. Ainda não há neve, mas o gelo é escorregadio. Ainda há dias andava de calções...!


20 outubro, 2011

Chegada e partida.

+5ºC

Entre mudanças para a nova morada, a visita da irmã e o remate do concurso de projecto, não sobra muito tempo para dedicar a esta página. Dei finalmente por concluídos os desenhos 2D, mas ainda há trabalho a fazer. Ontem cheguei a casa perto da meia-noite esganada de fome e fundi a segunda lâmpada em 3 dias. Diga-se que a outra foi a da casa-de-banho, agora tomo banho (e faço outras coisas) de porta aberta para ganhar alguma luz... Comprei velas de baunilha (que meti no roupeiro para dar cheiro), mas descobri que não tenho maneira de as acender. Foi à luz do "How I met your Mother" que estava a dar na televisão arcaica que herdei do antigo habitante do meu quarto, e com as janelas completamente descobertas, que me sentei de pijama na minha cadeira hiper-confortável de escritório (sempre sonhei ter uma destas) a comer as gomas que a Mariana me deixou.

Dizem que a neve vem no fim do mês. E dura 5 meses. Por isso fiquei contente por saber que em Tel-Aviv estão 27ºC. Vou ter tempo mais do que suficiente para chafurdar na neve... Só hoje é que caí em mim - faltam 5 dias para Israel e parece-me que não estou bem a ver onde me vou meter.

Tenho de telefonar para a TELE2 para me instalarem net em casa. E tenho de lavar um carregamento descomunal de roupa entre o qual se encontram as cortinas das janelas e roupa interior para 3 semanas fora.

Ah, e esta semana estou "on duty" na minha nova morada. Em cheio.

06 outubro, 2011

Fujichrome 64T RTP II, expired 2002

Estava (há um mês?) pousado no meio da confusão da minha sala de projecto à espera que eu reparasse nele.

"Olááá... tu por aqui sozinho? Vê lá se o meu bolso é confortável..."

02 outubro, 2011

Proporção 2 para 25.

Após duas semanas de existência e (poucos) posts depois, parece-me que o conteúdo deste Prato do dia se tem cingido, de alguma forma ou doutra, ao tópico da culinária/gastronomia/fikas. Não sendo esse o propósito (exclusivo!) deste Prato do dia, proponho hoje um outro tópico que tenho experimentado durante o último mês.
Porque parece que voltei à escola internacional.
Avisaram-nos logo, ainda antes de vermos o edifício: É o edifício mais polémico (odiado, mesmo) de Estocolmo. Não sei se a trepadeira verde e vermelha lhe tenta esconder a cara, mas a mim parece-me um contraste bonito sobre o betão. Rios de bicicletas velhas, ferrugentas e coloridas atrapalham-se debaixo das escadas de tiro que levam da rua ao piso de entrada da escola onde seguramente vamos encontrar o senhor cozinheiro maldisposto, de avental, a fumar à porta. No átrio, que também faz a vez de bar, há muitos meninos louros (se bem que a maior parte são seguramente muito mais velhos do que eu) que também se vestem tendencialmente de preto como em outras escolas de arquitectura. Há os óculos da moda, as malas da moda, os sapatos da moda, os cortes de cabelo da moda... e há um elemento que se destaca: são umas pequenas escadas de ferro circulares, daquelas que nos lembramos de ter visto algures numa casa com sótão, que estão colocadas centralmente e que são laranjas. Levam aos estúdios.

Aqui a escola é diferente daquilo a que estávamos habituados. Aqui, o ano começa com um workshop de duas semanas que nos introduz Estocolmo de outra perspectiva - aquela que nos interessa. Depois de visitas a arquivos, conferências no Museu de Arquitectura e algum trabalho de campo na cidade, o grupo (que foi formado aleatoriamente e é constituído por suecos e erasmus) é convidado a produzir e a apresentar uma interpretação daquilo que foi analisado, estudado e debatido. Nós fizemos um filme, sem arquitectura... Entretanto, há uma introdução aos 10 estúdios a decorrer durante o ano lectivo e que os alunos deverão escolher por ordem de preferência para se proceder à seriação e à formação de turmas. São 10 temas diferentes e todos com dois ou mais projectos a realizar durante o ano. Cada estúdio não terá mais de 25 alunos e os dois professores responsáveis estão presentes todas as aulas. A maior parte dos estúdios incluem uma ou mais visita/viagem no âmbito da cadeira, podendo esta ocorrer tanto na Lapónia, como em Hong Kong. Sustentabilidade, urbanismo, estudos críticos, paisagismo, habitação, modelação, edifícios públicos, ... há um tema certo para toda a gente.
Para compôr o nosso ciclo de estudos existe ainda uma outra cadeira opcional enquadrada no tema geral da História, Teoria e Tecnologia da Arquitectura e que decorre uma vez por semana. Para já, ainda não sei muito bem o que me espera o Coloured Light, o tema que escolhi, mas a primeira aula começou bem, com uma visita a uma exposição relacionada com a experiência da luz e da cor pelas pessoas no espaço.

Depois das escadas de tiro da entrada e de mais três lanços em escadas de caracol laranjas apertadas, apertadinhas (o cruzamento de duas pessoas em sentido contrário chega a ser conflituoso), chego ao 5º andar e à ala onde se encontra o meu estúdio, entre outros. Meia tonta e ofegante dou os bons-dias em inglês aos colegas que se encontram já a trabalhar na sala. A turma é à partida multicultural, um professor sueco e outro israelita. Mais de metade da turma é composta por pessoas não-suecas e, portanto, o inglês domina, como aliás acontece em todas as vertentes da escola. Há gente de todo o lado, com diferentes métodos e processos de trabalho, diferentes construções, soluções e arquitecturas. O objectivo não é ensinar um tipo de arquitectura que se conhece e que se pratica, mas antes orientar e questionar o aluno face ao caminho que o próprio traça. Já tenho 4 anos de formação em arquitectura. Tenho seis semanas para resolver um concurso para uma igreja na Noruega em grupo com outros erasmus de escolas que não conheço. É um desafio estimulante.

29 setembro, 2011

Dois gulosos em terra de "fika".


Volta e meia alguém pergunta: fika?

É a hora do café e do docinho. Há inúmeras desculpas para fazer vários fikas ao longo do dia...!

25 setembro, 2011

Kök.


Descobri que passo muito tempo na cozinha. Pelo menos, é o que os outros colegas erasmus que por aqui vivem comentam. Estás sempre a cozinhar! Levas tanto tempo a cozinhar... Cozinhas bem? 
Hmm... tendo em conta que tu jantas alface e fiambre regado com óleo, sim, talvez até saiba fazer uns petiscos... Sou portuguesa! Preciso de comer. E a verdade é que nesta casa a cozinha faz a vez de sala de convívio: franceses, alemães, espanholas, russa, marroquino, grego, chineses e a portuguesa, claro! Somos 16 pessoas a abusar da mesma banca, do mesmo microondas e a dividir dois fogões. Apesar de comunicarmos preferencialmente em inglês, às vezes sinto o início dum nó linguístico na cabeça, raios! E sou capaz de largar uma ou outra asneira em português (que os espanhóis entendem).
E porque é que às vezes cozinhas à meia-noite? horas estranhas...
Sim, eu sei que os suecos jantam a partir das 6h, mas também não vamos exagerar. Esta questão tem mais a ver com a vida noctívaga que um estudante de arquitectura bem conhece. Ora, janto agora porque tenho fome agora!
O mais chato é quando aparece o sinal "on duty" na porta do quarto. Significa que é a minha vez de limpar a cozinha das 16 pessoas. Por alguma razão, nunca fica com muito melhor aspecto do que antes de se proceder à "limpeza". É a patine do tempo... assim de tom sépia...

20 setembro, 2011

Está fresco.


Prato do dia: podia ser esta montra apetitosa do mercado em Hötorget, mas não. Fico-me pelo paracetamol e cetirizina.
sniff!

19 setembro, 2011

Lição #1: em Estocolmo não há casa.


Foi precisamente há um mês que me mudei para o meu quarto em Flemingsberg. Depois de dezenas de horas perdidas na net e inúmeros telefonemas infrutíferos eu e o Francisco decidimos-nos candidatar aos "last minute rooms"proporcionados pela faculdade. Aceitámos as poucas opções que nos disponibilizaram e aprendemos a nossa primeira lição: em Estocolmo não há casa.
Não há anúncios nas janelas, para renda ou para venda. Não há casas abandonadas ou devolutas. Até a cidade medieval está a abarrotar de residentes. Sub-alugueres de contratos em terceira mão são recorrentes. 2 milhões de pessoas vivem na zona urbana de Estocolmo. Isto num país de 9 milhões.
Morar nos subúrbios de Estocolmo (que chegam a ter um alcance de 60km relativamente ao centro) é um modo corrente de vida por aqui. Os suecos são adeptos da preservação de áreas verdes o que, aliás, lhes confere à capital o estatuto de cidade europeia mais verde! Os planos de expansão (residencial) são controladíssimos e cirúrgicos.

E, no entanto, as ruas estão cheias de suecos, imigrantes, jovens e filhos! muitos, muitos filhos!
Mas afinal, onde mora esta gente toda?!

Prato do dia: sushi (promocional!).

18 setembro, 2011

Faz 49 dias.

01 Ago 2011: +26ºC max
18 Set 2011: +14ºC max

Há 49 dias amanhecia por volta das 4h30 da manhã e o lusco fusco dava-se cerca das 10h da noite. O dia era excessivamente comprido o que justificava o desgaste extremo sentido ao início da noite depois de um dia deveras preenchido: acorda. arranja-te. vai para a universidade. aula de sueco das 9h às 12h. almoça. procura casa. estão a decorrer actividades de recepção aos erasmus. tens papelada para tratar. há uma reunião na faculdade de arquitectura. supermercado. ainda não visitaste a cidade velha?! continua a procurar casa. casa. casa. casa. estão a combinar ir lanchar. barbecue amanhã no parque. festa à noite em lappis. vamos experimentar as bicicletas. hoje é dia de mandar um mergulho nas águas do centro da cidade. tens de cozinhar. pôr roupa a lavar. arrasta as malas para um novo quarto. no ikea tens tudo aquilo que te faz falta neste momento. não te esqueceste de fazer os tpcs de sueco para amanhã, pois não?

Experiências que nenhum estudante erasmus desconhece.
Entretanto fomos aprendendo algumas coisas sobre esta nossa cultura anfitriã (não necessariamente através do curso de sueco), fomos desenvolvendo estratégias de sobrevivência num meio conhecido pelos altos (e caros) padrões de vida e adoptámos algumas técnicas de tolerância à luminosidade madrugadora que se infiltra nos quartos (basicamente significa dormir de venda, lenço ou cachecol).

Nesse dia 1 de Agosto, o primeiro prato consistiu num hambúrger numa caixa de cartão do Mac que comemos junto ao edifício da Biblioteca de Gunnar Asplund, ignorando por completo a sua silhueta modernista, absorvidos pelo choque de termos aterrado numa verdadeira e grande metrópole europeia.