Detesto dobrar roupa interior. A sério, não gosto.
As meias são terríveis.
Hoje sobraram 3 meias sem par à vista.
30 novembro, 2011
27 novembro, 2011
Petra, na Jordânia.
Para quem não sabe, é esta a cidade desaparecida do Indiana Jones! Por isso não é de admirar que se ouvisse constantemente alguém nas nossas costas a assobiar a música do filme... tu-tutu-tuuuu-tu-tutuuuu! Fizemos uma breve incursão no reino árabe da Jordânia para visitar esta pequena grande pérola escavada na rocha. Dizem que os grandes canyons pelos quais se faz o ingresso na cidade foram talhados pelas correntes fortes de águas antigas e que as paredes seriam todas esculpidas por homens dos vários Impérios que por estas terras passaram. A subida estafante até ao último templo valeu bem pela conquista da paisagem...
26 novembro, 2011
Sabbath Shalom!
Logo agora que me estava a habituar a ter o fim de semana à 6a feira e ao sábado e a começar o domingo como se fosse uma 2ª feira...
O primeiro domingo que passámos em Tel Aviv – depois de duas semanas a percorrer o país – foi dia de trabalho. Apresentámo-nos na Universidade para uma aula sobre o nosso terreno dada por um professor local e conhecemos a turma dele. Felizmente a noite de sábado não tinha sido tão agressiva como outras tantas... Penso que todos nós nos esquecemos momentaneamente de que era domingo, pois o frenesim era digno de uma 2ª feira. Sobretudo depois de um dia tão morto como o sábado, onde não se passa rigorosamente nada pela cidade fora (pelo menos durante o dia, pois Tel Aviv é uma cidade bem viva pela noite dentro).
“Sabbath shalom” é o cumprimento judaico que se dá para se desejar um feliz fim de semana que é normalmente festejado com uma grande jantar à 6ª feira onde se reúnem amigos e familiares. Em Haifa, durante o meu primeiro Sabbath, ia pela galeria exterior do hostel onde nos hospedámos, a caminho do meu quarto, quando me tive de desviar de um grande grupo animado que se tinha abancado, cortando a passagem. Provavelmente já teriam bebido uma quantidade razoável ou, então, eram simplesmente pessoas muito simpáticas e hospitaleiras. Através de gestos e palavras em inglês rudimentar, fizeram questão em me oferecer um (grande) shot de vodka judeu (segundo percebi). Quando me engasguei, entre muitos risos dos meus anfitriões, várias mãos estenderam-me tâmaras doces para me aliviar.
Porque hoje é Sabbath, vou passear.
24 novembro, 2011
oops...
Enganei-me! Escrevi e reescrevi Líbia em vez de Líbano (Lebanon)! Mil desculpas, obrigada Diogo pelo reparo...
Ruína sobre ruína.
Em Israel não há bombas a rebentar em todos os cantos. Quem assim o julga é influenciado pela imprensa internacional onde apenas são documentados os conflitos na faixa de Gaza, as ameaças palestinianas e as tensões resultantes do programa nuclear iraniano. Contudo, a nossa viagem desenrolou-se sem problemas nenhuns (com certeza devido ao esforço enorme do nosso professor e dos seus amigos israelitas). No aeroporto (e em outros locais públicos), as medidas de segurança rigorosas e os interrogatórios só evidenciam como Israel sabe proteger-se e sabe estar atenta:
“O seu apelido é de que origem?”
“Almeida? Português.” (não, não é árabe...)
Devo dizer que estas medidas geraram por vezes um conjunto de situações caricatas e que assisti com os meus colegas às perguntas mais surreais...
Falando agora de factos: é verdade que a estrada junto à fronteira com a Líbia, a norte, está minada de ambos os lados, durante vários quilómetros – estavam lá os avisos. Há regiões desertas, a sul, que servem de campos de treino e que são atravessadas por estradas onde se lêem avisos do género: “Atenção, zona de fogo cruzado.” Israel tem uma máquina de guerra pronta para qualquer eventualidade, é assim que ganha o respeito dos seus vizinhos árabes.
Aterrámos em Tel Aviv, mas seguimos de imediato para norte, para o último sítio mais a norte, junto à costa, antes da Líbia: Rosh Hanikra. Estância balnear, mar azul, tempo morno, palmeiras e cactos. Um local tipicamente mediterrânico. A poucos quilómetros, a fronteira. A viagem começa com visitas a locais de interesse natural ou histórico-arquelógico como Banias ou Bar’am, vamos parando para dar palavra ao nosso guia que nos dá explicações exaustivas sobre os sítios, as pessoas e a posição político-territorial de Israel, apontando ocasionalmente algumas curiosidades pelo caminho relacionadas com a história antiga, a recente, a colonização europeia ou religião. Gollan Heights, Galileia, Akko, Cesareia. As cidades ou as ruínas que restam são o testemunho de “layers and layers and layers” de história, conflitos, destruição, domínio e reconstrução. Esta terra foi assolada por todos os períodos da história, todos os impérios, todas as religiões. Filisteus, gregos, romanos, bizantinos, cristãos, cruzados, muçulmanos, otomanos, franceses, britânicos, árabes, judeus.
A segunda parte da viagem começa quando deixamos para trás Amos e Jerusalém, em direcção a sul e ao deserto. A paisagem muda para uma secura extrema, são montanhas atrás de montanhas de pó e rocha, o sol a brilhar sempre. Ao longe, começamos a avistar o azul do Mar Morto. Por esta altura, a nossa carrinha, a das Nações Unidas como foi alcunhada pelos suecos e irlandeses que viajavam noutros dois grupos, estava impregnada de cascas de sementes de girassol, um entretenimento que nos viciou durante todo o caminho. Virámos para Masada, uma montanha com as ruínas do Palácio de Herodes no topo e à entrada baixei o vidro da frente pare responder ao guarda:
“São de onde?”
“Suécia!”
Os meus colegas olharam todos para mim... Uma portuguesa, um irlandês, um italiano, um suíço, dois franceses, uma russa e sim, lá ao fundo, um sueco.
Quiseram subir a montanha a pé. Por alguma razão existia um teleférico, mas o desafio de trepar uns 400 metros de pó e rocha zigzagueantes, ao sol do início da tarde, sem equipamento, nem água, foi mais forte. Claro que quando cheguei lá acima, uns quinze minutos depois da maior parte deles e com a cara vermelha, não queria saber do palácio para nada (mais ruínas) e só pensava que aqueles turistas americanos gordos que tinham vindo de teleférico não mereciam estar ali.
Voltámos aos carros e fomos boiar no Mar Morto.
23 novembro, 2011
Voltei agnóstica de Jerusalém.
Entrámos na cidade já era noite. Luzes, carros, motas, pessoas, ruas estreitas e um caos geral e habitual deu-nos as boas vindas. Seguíamos dentro das carrinhas, pés descalços, calções e as toalhas de praia enroladas a um canto salgadas do banho perto de Cesareia. O suíço que ia a conduzir perdeu toda a neutralidade frente à barbaridade do tráfego intenso e, entre apitadelas e asneiras, deu-se o desmembramento da nossa caravana. Algumas infracções depois apostámos em encostar e telefonar aos guias locais para nos virem orientar até ao hostel. Estávamos perto do bairro judeu, construções simples, modernistas, brancas e com jardins. Pelas ruas largas passeavam homens de kippah ou de chapéu preto com abas, barba, fato também ele preto e com o casaco bem comprido. É quase como se fosse um uniforme imposto pela religião, faça chuva, faça sol, o traje acompanha o quotidiano do homem desde a juventude. Novamente em andamento, passámos por paragens de autocarros onde se viam rapazes e raparigas vestidos com a farda militar, cenário que por esta altura já se tornara recorrente para nós e que significa o cumprimento do serviço militar obrigatório israelita. Entrámos na zona árabe da cidade, evidentemente muito mais desorganizada e negligenciada. O lixo dos mercados e bazares acumulava-se nos passeios e as ruas atrofiadas e sinuosas estavam entupidas com o trânsito. As pessoas atravessavam-se indiferentemente pelo meio dos carros e ouvia-se música e vozes que chamavam bem alto.
Do Monte dos Olivais parámos para observar os muros da cidade velha que se erguia em frente, um cemitério muçulmano aos seus pés e algumas cúpulas a pontuar a paisagem nocturna. Só à luz do dia seguinte é que observámos de perto as marcas nos muros deixadas por balas ao longo de décadas de conflito pelo domínio desta cidade. O nosso guia, o Amos, levou-nos a conhecer os telhados de Jerusalém num percurso extenso sobre a muralha velha: ao sol e ao calor, ora sobe dez degraus, ora desce dois, sobe mais uns cinco e torna a descer. O casco antigo da cidade, muito denso, tinha os terraços carregados de antenas, depósitos de água, parabólicas, tijolos, tralha e bandeiras. As construções no interior da muralha são muito disputadas por judeus e muçulmanos que, sempre que conseguem adquirir uma casa, fazem questão em evidenciar quem lá vive, seja colocando uma bandeira israelita, seja construindo uma cúpula encimada por uma lua muçulmana. O perfil da cidade velha é composto por alguns minaretes, torres com sinos, cruzes e estrelas de David. Intramuros, a cidade é organizada em quatro bairros principais: cristão, muçulmano, judeu e arménio. Como não poderia deixar de ser, tantas culturas diferentes a conviver num mesmo espaço geram, por vezes, conflitos (se bem que no caso de Jerusalém, actualmente, o mercado do turismo e da peregrinação acaba por prevalecer e afastar qualquer disputa interna significativa). Apesar de em Israel habitarem maioritariamente judeus e de o estado ter atingido um grau de estabilidade e desenvolvimento sustentável e moderno, este é um problema que se estende ao resto do país, sobretudo devido à presença de algumas comunidades árabes com forte expressão da sua cultura. Israel é neste momento um país caracteristicamente judeu no Médio Oriente e, apesar de os países vizinhos árabes reconhecerem o Estado de Israel (pois Israel é um país com uma história bem antiga), não aceitam a legitimidade judaica sobre esta terra. Jerusalém exprime a concentração e contaminação máxima de religiões e culturas, pessoas e tradições, onde toda a gente tem o mesmo direito sobre a sua fé.
Depois de dar meia volta aos telhados de Jerusalém, foi altura de descer às entranhas da cidade, à gigantesca caverna que serviu de pedreira ao rei Salomão, onde o nosso guia achou por bem dar-nos uma lição de duas horas sobre a Terra Santa, debaixo de terra. Confesso que não ouvi muito... Subindo novamente às alturas, fizemos mais uma pequena maratona pelos muros, até que enfim descemos e entrámos na cidade.
Sigo directa até ao Muro das Lamentações. Foi dos cenários que mais me impressionou. O Santo Sepulcro, que visitámos mais tarde, apenas me enfastiou com o seu turbilhão de turistas, guias, flashes e fotografias, bandeirinhas e bonés coloridos. E lá pelo meio da confusão e do barulho algumas pessoas pseudo-religiosas (porque não acredito que o ambiente fomentasse qualquer sentimento de fé) ajoelhavam-se, beijavam a pedra onde morrera Jesus (?) e acendiam velas para logo depois voltarem à sua excursão e ao seu guia que falava como se estivesse a lidar com o infantário. Bem vindos à Disneyland... Junto ao Muro passava-se o mesmo. Uma família (ocidental), pais e criança, pediram-me para lhes tirar uma fotografia sorridente com o Muro como pano de fundo, os chapéus pretos dos judeus lá ao fundo a rezarem. Transformar a religião em turismo é um mercado rentável.
Junto ao Muro, que afinal não passa mesmo de um muro, homens e mulheres estão separados nas suas orações. Sendo mulher, apenas pude aproximar-me das outras mulheres que rezavam no lado direito. Coladas ao muro, em pé ou de joelhos, o fervor com que rezavam reflectia-se no ritmo do seu baloiçar para trás e para a frente, à medida que murmuravam coisas ininteligíveis com a cara enfiada dentro da bíblia. Algumas estavam verdadeiramente transtornadas, outras pareciam apáticas. Não me demorei, a pequena demonstração foi suficiente para recuar de costas, respeitando as regras e os presentes. Acções extremistas e fanáticas sempre me assustaram, pois evocam a perda de controle, de domínio e de consciência de quem as pratica. Julgo eu.
No dia seguinte, curiosos como somos enquanto estudantes de arquitectura, decidimos enveredar por um bairro especialmente sensível e extremista, sobre o qual o nosso professor nos havia previamente informado. Os judeus ultra ortodoxos vivem em comunidade fora das muralhas da cidade velha, na enorme zona que compõe a nova Jerusalém e que se desenvolveu durante o século XX. No entanto, o grau de conservadorismo em que vivem remonta a uns quantos séculos de atraso. De cabeça tapada (as mulheres), braços e pernas tapadas e em fila indiana, subimos a rua principal do bairro sem parar para olhar. Houvera relatos recentes de uma turista maltratada por estes lados. Nem tirei a máquina fotográfica de dentro da mala, não fosse alguém lembrar-se de ma partir. Grandes cartazes em hebreu e inglês pediam o favor de não usar “inmodest clothing in our neighborhood, such as skirts, short sleeves, tight clothes, ...” Com o calor, apeteceu-me tirar o lenço da cabeça quando reparei em mulheres que também não o usavam. Até que me chamaram a atenção para o facto de essas mulheres estarem a usar perucas, muitas delas rapam o cabelo. Os homens trajam todos da mesma maneira, umas túnicas cinzentas pelo joelho com camisa branca por baixo, uma corda especial à cintura e chapéu de abas. Deixam crescer a barba e as patilhas em rastas ou canudos (duas coisas compridas penduradas de cada lado das orelhas), pois os seus mandamentos não permitem o uso de lâminas de corte na cara, tal como não permitem o consumo de carne de porco, nem a produção de fogo durante o Sabbath, o dia de descanso da comunidade (razão pela qual não se cozinha neste dia, não se pode andar de carro, nem sequer chamar um elevador – há edifícios onde durante o Sabbath existe um elevador a correr para cima e para baixo continuamente de forma a não ser necessário carregar no botão que produz a faísca que desencadeará todo o processo mecânico do elevador). Como diria o nosso guia: “why? Because it says so in the bible!”
A comunidade dos ultra ortodoxos, bem no centro da cidade, vive em segregação face a tudo o resto que a cerca, tem as suas próprias escolas, o seu comércio e a sua economia. Raramente se avistam estas pessoas noutros bairros da cidade e duvido que frequentem supermercados, museus ou faculdades. Não pretendem misturar-se e vivem no seu próprio conceito de sociedade. Lembro-me de pensar, enquanto atravessava as suas ruas, que futuro terão estas pessoas?
Para rematar quero salientar que provei aqui em Jerusalém o melhor húmus de Israel, numa tasca debaixo duma arcada, e que a noite de Sábado é muito divertida e concorrida nos bares da zona perto da Zion Square. Existe também aqui uma faculdade de arquitectura que encontrámos por acaso e que fomos espreitar.
22 novembro, 2011
Digestão.
O período de adaptação começou a partir do momento em que pisei novamente o aeroporto de Arlanda, Estocolmo, há uma semana atrás. Poderia ter sido ao contrário, mas Israel pareceu-me bastante familiar em certos aspectos que relacionei com Portugal. É um país muito mediterrâneo e bastante ocidentalizado, apesar de tudo. O choque deu-se no regresso. Chamemos-lhe quadratura, frieza e compostura sueca. Decorações de Natal, o sol a pôr-se às 3h da tarde e com tantas horas de escuridão, o sono vem mais cedo, claro. Ainda não há neve, mas o gelo é escorregadio. Ainda há dias andava de calções...!
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