24 novembro, 2011

Ruína sobre ruína.


Em Israel não há bombas a rebentar em todos os cantos. Quem assim o julga é influenciado pela  imprensa internacional onde apenas são documentados os conflitos na faixa de Gaza, as ameaças palestinianas e as tensões resultantes do programa nuclear iraniano. Contudo, a nossa viagem desenrolou-se sem problemas nenhuns (com certeza devido ao esforço enorme do nosso professor e dos seus amigos israelitas). No aeroporto (e em outros locais públicos), as medidas de segurança rigorosas e os interrogatórios só evidenciam como Israel sabe proteger-se e sabe estar atenta:
“O seu apelido é de que origem?”
“Almeida? Português.” (não, não é árabe...)
Devo dizer que estas medidas geraram por vezes um conjunto de situações caricatas e que assisti com os meus colegas às perguntas mais surreais...

Falando agora de factos: é verdade que a estrada junto à fronteira com a Líbia, a norte, está minada de ambos os lados, durante vários quilómetros – estavam lá os avisos. Há regiões desertas, a sul, que servem de campos de treino e que são atravessadas por estradas onde se lêem avisos do género: “Atenção, zona de fogo cruzado.” Israel tem uma máquina de guerra pronta para qualquer eventualidade, é assim que ganha o respeito dos seus vizinhos árabes.

Aterrámos em Tel Aviv, mas seguimos de imediato para norte, para o último sítio mais a norte, junto à costa, antes da Líbia: Rosh Hanikra. Estância balnear, mar azul, tempo morno, palmeiras e cactos. Um local tipicamente mediterrânico. A poucos quilómetros, a fronteira. A viagem começa com visitas a locais de interesse natural ou histórico-arquelógico como Banias ou Bar’am, vamos parando para dar palavra ao nosso guia que nos dá explicações exaustivas sobre os sítios, as pessoas e a posição político-territorial de Israel, apontando ocasionalmente algumas curiosidades pelo caminho relacionadas com a história antiga, a recente, a colonização europeia ou religião. Gollan Heights, Galileia, Akko, Cesareia. As cidades ou as ruínas que restam são o testemunho de “layers and layers and layers” de história, conflitos, destruição, domínio e reconstrução. Esta terra foi assolada por todos os períodos da história, todos os impérios, todas as religiões. Filisteus, gregos, romanos, bizantinos, cristãos, cruzados, muçulmanos, otomanos, franceses, britânicos, árabes, judeus.

A segunda parte da viagem começa quando deixamos para trás Amos e Jerusalém, em direcção a sul e ao deserto. A paisagem muda para uma secura extrema, são montanhas atrás de montanhas de pó e rocha, o sol a brilhar sempre. Ao longe, começamos a avistar o azul do Mar Morto. Por esta altura, a nossa carrinha, a das Nações Unidas como foi alcunhada pelos suecos e irlandeses que viajavam noutros dois grupos, estava impregnada de cascas de sementes de girassol, um entretenimento que nos viciou durante todo o caminho. Virámos para Masada, uma montanha com as ruínas do Palácio de Herodes no topo e à entrada baixei o vidro da frente pare responder ao guarda:
“São de onde?”
“Suécia!”
Os meus colegas olharam todos para mim... Uma portuguesa, um irlandês, um italiano, um suíço, dois franceses, uma russa e sim, lá ao fundo, um sueco.

Quiseram subir a montanha a pé. Por alguma razão existia um teleférico, mas o desafio de trepar uns 400 metros de pó e rocha zigzagueantes, ao sol do início da tarde, sem equipamento, nem água, foi mais forte. Claro que quando cheguei lá acima, uns quinze minutos depois da maior parte deles e com a cara vermelha, não queria saber do palácio para nada (mais ruínas) e só pensava que aqueles turistas americanos gordos que tinham vindo de teleférico não mereciam estar ali.

Voltámos aos carros e fomos boiar no Mar Morto.

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