[R. Keys] Canon EOS 550D
Dirigimos-nos a Pulpit Rock, perto de Stavanger.
Apesar do R. se ter andado a queixar ultimamente de umas dores num dos pés (o
que era o pretexto ideal para se escapar a algumas das tarefas mais chatas exigidas
pelo campismo) ia na frente quando enveredámos pelo meio de mato e calhaus
juntamente com muitos outros turistas de aspecto atlético para subir um
percurso de quase 2 horas (3,8km) que nos levaria ao cimo do fiorde (604m).
O nome do local advém de uma pedra enorme que se atinge no fim do percurso e
que se encontra perigosamente empoleirada no cimo duma escarpa, debruçada sobre
uma paisagem avassaladora, tornada ainda mais espectacular pelo céu carregado
em vários tons de cinzentos escuros. As grandes e dramáticas arestas graníticas
afiadas de todo o cenário conferiam um geometria e austeridade ao conjunto que
se contrapunha à pequena escala humana que formigava na paisagem.
Como sempre,
a Teresa, a menos atlética do grupo, foi ficando para trás, ofegante e
transpirada. Por duas vezes desviou-se involuntariamente das setas vermelhas e
dos sinais que indicavam o caminho certo, qual cabra montanhesa a trepar
escarpas e a saltar de pedra em pedra durante duas horas e a um ritmo, para
ela, bastante acelerado. Todo este conceito a que chamavam “hiking” (para o
qual até tinha as botas merrell adequadas, sem o saber) com todos os noruegueses
e estrangeiros super equipados e super desportivos, era novidade.
Pelo caminho,
à medida que me distanciava dos outros, encontrando-os mais à frente a
mergulhar num lago gelado sob umas nuvens ameaçadoras, distraí-me e fui
pausando para tirar algumas fotografias.
Umas 4 horas depois reunimo-nos novamente
junto da carrinha, transpirados e sedentos. A questão que se punha agora era:
pagamos ou não pagamos as 100 coroas de estacionamento? Não nos apetecia muito,
já tínhamos uma multa de estacionamento por termos largado a carrinha num lugar
perfeito, vago, mesmo em frente da Ópera em Oslo... Foi assim que começou o
nosso historial de ciganos na Noruega, o que se pudesse poupar, poupava-se!
O T. sentou-se ao volante e preparou-se para acelerar atrás do carro que pagava
o estacionamento na máquina antes da cancela. No último instante, hesitou e a
cancela desceu. Deu-lhe um pequeno ataque de fúria francesa, virou o volante
todo à direita e, antes que nos apercebêssemos do que fazia, subiu o passeio e
fez passar a carrinha entre as barreiras e um calhau enorme enquanto nós nos
encolhíamos todos nos assentos, de boca aberta, com todos os outros turistas a olharem para
nós. Desaparecemos a acelerar.
Canon AE1 | FujiColor 800 ASA
Talvez uma hora depois, encontrávamo-nos a
conduzir por montes verdes e túneis escuros, estradas serpenteantes de duas
faixas. Após alguns dias de condução, chegámos à conclusão de que a Noruega não
conhecia o conceito “auto-estrada”. Mas pagavam-se portagens na mesma. Havia
estradas que até terminavam abruptamente na pista de entrada de um ferry para
serem depois retomadas na outra margem.
O tempo continuava húmido e cinzento. Viam-se fios de água a cair em cascata pelas encostas dos fiordes anunciando o descongelamento dos últimos restos de neve. Foi numa das curvas da estrada que nos deparámos inesperadamente com o primeiro elemento que identificámos como fazendo parte dos “Nasjonale turistveger” - Svandalsfossen. Uma cascata enorme e barulhenta que pulverizava tudo em redor descia do nosso lado esquerdo e atravessava-se por baixo da estrada, indo de encontro à agua. Um conjunto de escadas e pontes em betão, aço cortén e pedra acompanhavam o seu percurso, permitindo chegar muito perto. Descemos às pedras e trepámos pelo meio das árvores, descobrindo os ângulos e pontos de vista retorcidos que nos permitiam observar a cascata natural.
O tempo continuava húmido e cinzento. Viam-se fios de água a cair em cascata pelas encostas dos fiordes anunciando o descongelamento dos últimos restos de neve. Foi numa das curvas da estrada que nos deparámos inesperadamente com o primeiro elemento que identificámos como fazendo parte dos “Nasjonale turistveger” - Svandalsfossen. Uma cascata enorme e barulhenta que pulverizava tudo em redor descia do nosso lado esquerdo e atravessava-se por baixo da estrada, indo de encontro à agua. Um conjunto de escadas e pontes em betão, aço cortén e pedra acompanhavam o seu percurso, permitindo chegar muito perto. Descemos às pedras e trepámos pelo meio das árvores, descobrindo os ângulos e pontos de vista retorcidos que nos permitiam observar a cascata natural.
Canon AE1 | FujiColor 800 ASA
Uma das características da paisagem
norueguesa é a transitoriedade do seu clima, à medida que se avança pelo
território. Houve alturas em que rapidamente, em menos de uma hora talvez,
deixávamos para trás a água límpida de um fiorde com os seus campos verdes, céu
azul e 20ºC ao sol para subirmos ao nevoeiro e autênticas muralhas de neve que
ladeavam as estradas no topo das montanhas. O M. vestia os calções de banho a
pensar em dar um mergulho cá em baixo e depois saía do carro lá em cima e
ficava enterrado em neve, as perninhas expostas.
A chuva acompanhou-nos enquanto
abandonávamos a cascata e continuámos a conduzir até bastante tarde. Enquanto
houvesse luz, não era urgente parar para montar acampamento. O local que
acabámos por escolher nessa noite junto a um lago meio pantanoso foi dos menos
bons, mas o prato quente de arroz com courgette, cenouras e passas estufadas
que eu e a E. cozinhámos (as refeições caíam sempre à responsabilidade das
meninas) compensou. Na manhã seguinte acordámos cedo, deviam ser 8h, e com
muitas vozes à nossa volta. Quando um objecto pesado caiu num dos lados da
tenda, o T. abriu a porta furioso e deparou-se com uma turma de uns 25 miúdos.
Estavam numa excursão de bicicleta e preparavam-se para meter umas canoas na
água. Foi pretexto para nos pormos rapidamente a andar dali para fora.
Gradualmente fomos ficando melhores e mais rápidos a levantar e arrumar o
acampamento e para o fim da viagem já se faziam competições entre os rapazes
para registar recordes para a operação de desmontagem da tenda grande.
[R. Keys] Canon EOS 550D
Voltámos aos fiordes de águas azuis e verdes, o dia alternava entre a chuva e o sol. Conduzimos muito,
atravessámos montanhas onde ainda caía neve, passámos por algumas “casas de
banho de interesse arquitectónico”, apanhámos alguns ferries (eu e a E. escondíamo-nos
no meio das malas para evitar pagar mais umas tarifas desnecessárias) e
chegámos a Bergen, já a tarde ia adiantada. Na cidade, conseguimos finalmente
comprar a publicação com o resto do roteiro onde surgiam as peças
arquitectónicas que nos interessavam.
Bergen é um destino super turístico. Demos uma volta, um sítio bonitinho, arranjadinho e pequenino, com muitos chineses, mas rapidamente nos cansámos e quisemos voltar à estrada e à natureza. Nem me sentia bem a andar em ambiente urbano, digamos que 5 noites de campismo selvagem já se reflectiam no meu aspecto. Ainda parámos num café porque os rapazes se queixavam que precisavam de wi-fi nos iphones (são perfeitamente dependentes do facebook, apesar de insistirem que precisavam de responder a emails importantes) e o T. pagou o lanche mais caro da sua vida – 16€ por um café e uma fatia de bolo e nem conseguiu apanhar internet!
Bergen é um destino super turístico. Demos uma volta, um sítio bonitinho, arranjadinho e pequenino, com muitos chineses, mas rapidamente nos cansámos e quisemos voltar à estrada e à natureza. Nem me sentia bem a andar em ambiente urbano, digamos que 5 noites de campismo selvagem já se reflectiam no meu aspecto. Ainda parámos num café porque os rapazes se queixavam que precisavam de wi-fi nos iphones (são perfeitamente dependentes do facebook, apesar de insistirem que precisavam de responder a emails importantes) e o T. pagou o lanche mais caro da sua vida – 16€ por um café e uma fatia de bolo e nem conseguiu apanhar internet!
Conduzimos até muito tarde, a paisagem mudou, os túneis tornaram-se mais compridos, as escarpas de rocha altas e rectas substituíram as encostas e os vales verdes – de alguma forma a sua presença parecia mais próxima e a nossa escala bastante reduzida.
Parámos para passar a noite num sossegado parque de campismo, perdido nesta paisagem monumental. A E. fazia anos no dia seguinte e o seu desejo de aniversário era tomar um duche. Jantámos na minúscula cozinha do local perto da meia noite, brindámos, conversámos um pouco e discutimos o dia seguinte.
04.06 - 05.06
640 km
Pulpit Rock [Preikestolen]-Svandalsfossen-Bergen-Aurland
640 km
Pulpit Rock [Preikestolen]-Svandalsfossen-Bergen-Aurland
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